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Liliane Vieira Pinheiro
Doutoranda em Ciência da Informação
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Edna Lúcia da Silva, Rosangela Schwarz Rodrigues
Professoras do Departamento de Ciência da Informação
Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Resumo
Introdução: A produção é parte essencial da atividade científica e a sua visibilidade é indicador para a avaliação da ciência. Os periódicos científicos têm se transformado e o movimento de acesso aberto tem impulsionado mudanças no modelo de comunicação científica.
Objetivo: A presente pesquisa objetivou analisar os periódicos utilizados para publicação pelos pesquisadores de Ciência da Informação no Brasil e sua visibilidade nas bases de dados WoS e Scopus, comparando as publicações com acesso aberto e acesso restrito.
Resultados: Conclui-se que os pesquisadores publicam prioritariamente em periódicos nacionais de acesso aberto e que a visibilidade destas publicações não apresenta diferenças significativas no que tange à visibilidade em bases de dados internacionais comparadas com as publicações de acesso restrito.
Abstract
Introduction: Production is an essential part of scientific activity and its visibility is an indicator for the evaluation of science. Scientific journals have been transformed and the open access movement has driven changes in our scholarly communication model.
Objective: This paper analyses the scientific journals used by researchers in information science in Brazil and the visibility of these journals in the Web of Science (WoS) and Scopus databases by comparing the scientific production published in open access and restricted-access journals.
Methodology: Quantitative, exploratory and documentary analysis was made using the scientific production of researchers in information science in Brazil that receive productivity grants from the Brazilian National Research and Development Council (CNPq).
Results: It was found that researchers published primarily in open access national journals, and that the visibility of these journals in international databases did not significantly differ to the visibility of restricted-access publications.
1 Introdução
No Brasil, a Ciência da Informação é um campo de conhecimento institucionalizado cientificamente, classificado pelas agências de fomento à pesquisa no país como Ciência Social Aplicada. Hoje, esse campo está representado por 14 programas de pós-graduação e 20 periódicos. O campo também possui fórum de debates e reflexões consolidado que reúne pesquisadores interessados nos temas especializados da área, organizados em grupos de trabalho articulados tematicamente, denominado de Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB).
Entre os pesquisadores da Ciência da Informação no Brasil, 45 possuem Bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), importante agência governamental de financiamento em C&T no país. A bolsa visa "distinguir o pesquisador, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq e específicos, pelos Comitês de Assessoramento (CAs) do CNPq." (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 2007). Tais bolsistas representam a elite dos pesquisadores, recebem incentivos, têm prioridade na distribuição de bolsas de iniciação de científica e têm o reconhecimento das agências de financiamento público.
Para ocupar essa posição, esses pesquisadores passam periodicamente por avaliação de seus pares no CNPq conforme dito acima. Nesse processo, a produção científica tem peso importante na avaliação desses pesquisadores e a concessão de financiamento leva em consideração os resultados alcançados em termos de produtividade científica.
Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar os periódicos utilizados para publicação pelos pesquisadores de Ciência da Informação no Brasil e sua visibilidade em bases de dados. Para tal, os objetivos específicos são: a) levantar os periódicos utilizados pelos pesquisadores para publicação no período de 2008 a 2012; b) identificar quais desses periódicos utilizados são de acesso aberto; e c) verificar a presença na Web of Science (WoS) e Scopus de periódicos de acesso aberto e de periódicos de acesso restrito.
Nesta pesquisa, entende-se por periódicos de acesso aberto aqueles disponíveis na Internet sem exigência de pagamento para consulta, e como restritos aqueles que para seu uso é exigido pagamento para o acesso. Visibilidade, embora o termo seja usado de forma mais ampla por alguns autores, neste caso, refere-se ao fato de o autor publicar seu artigo em uma revista indexada em uma base de dados internacional. Assim, neste artigo procura-se mostrar a visibilidade das publicações de pesquisadores da área de Ciência da Informação em duas bases de dados e se essa visibilidade tem alguma relação com o tipo de acesso permitido pela revista (aberto ou restrito), o que, consequentemente, contribuirá para o entendimento de como se processa a produção científica dos pesquisadores da Ciência da Informação no Brasil.
2 Ciência, produção científica e o acesso aberto
A ciência é um processo social, uma atividade dinâmica e evolutiva, e o seu avanço depende da contínua produção de questões, da transformação destas em objetos para a realização de pesquisas e da divulgação dos resultados obtidos. Por intermédio da ciência, o homem tenta conhecer o mundo e busca respostas e explicações para as inúmeras situações e fenômenos que o cercam.
A ciência é conhecimento público, assim um resultado de pesquisa só ganha importância após a sua publicação (Ziman, 1979). A publicação dos resultados de uma pesquisa visa à divulgação das descobertas científicas, à proteção da propriedade intelectual e ao reconhecimento pelos pares, pois a ciência só alcança sua legitimidade quando é analisada e aceita pelos pares e esse processo é viabilizado pela publicação. A publicação científica é um elemento necessário para a produção do conhecimento científico e se publica para que o conhecimento produzido possa ser reconhecido pela comunidade científica. São as publicações que dão ao autor a prioridade da descoberta (Volpato, 2008).
A comunicação é condição sine qua non ao desenvolvimento e continuidade da ciência, e é parte do processo de pesquisa científica (Ziman, 1979; Mueller, 1995; Meadows, 1999). Portanto, "é a comunicação científica que fornece ao produto (produção científica) e aos produtores (pesquisadores) a necessária visibilidade e possível credibilidade no meio social em que o produto e produtores se inserem." (Targino, 2000, p. 54). A comunicação científica "[...] situa-se no coração da ciência. É para ela tão vital quanto à própria pesquisa, pois a esta não cabe reivindicar com legitimidade enquanto não houver sido analisada e aceita pelos pares." (Meadows, 1999, p. vii).
Dentre as alternativas usadas na comunicação científica formal, o periódico é considerado o principal meio pelos cientistas. A divulgação dos resultados de suas pesquisas é fundamental para garantir a prioridade de suas descobertas e o reconhecimento público como autores. Assim, a história da ciência moderna tomou novos rumos com a criação dos periódicos, que se tornaram mecanismos de publicação sistemática de fragmentos de trabalho científico (Ziman, 1969). Price (1974) considera esse tipo de publicação como o principal veículo para registro do conhecimento humano. Os periódicos, em todas as áreas do conhecimento, deve-se ressaltar são filtros para se "reconhecer os trabalhos válidos e as taxas de rejeição funcionam como um dos indicadores de qualidade. A publicação em uma revista reconhecida pela área é a forma mais aceita para registrar a originalidade do trabalho e para confirmar que os resultados foram confiáveis o suficiente para superar o ceticismo da comunidade científica". (Rodrigues; Oliveira, 2012, p. 79).
A revisão de pares é responsável pela garantia de qualidade dos artigos publicados nos periódicos. Os periódicos, por sua vez, têm sua avaliação de qualidade atrelada a sua representação em bases de dados internacionais. Castro, (2011, p. 111) explica que "para a avaliação da produção científica pelas agências de ciência e tecnologia, a indexação de revistas em bases de dados tem sido usada como um indicador de qualidade, ou como uma validação do mérito científico e do cumprimento dos critérios básicos de seleção".
Zimba e Mueller (2004, p. 49) destacam que "uma posição de visibilidade alta é aquela na qual os trabalhos e ideias do pesquisador são facilmente acessíveis". Teoricamente, se são mais acessíveis, parecem ter mais chances de serem recuperados, lidos e citados. As chances de um autor aumentar sua visibilidade, ainda para esses autores são "dependentes de sua maior exposição à comunidade mundial de pares e isso tem mais probabilidade de ocorrer quando a publicação de trabalhos de pesquisa se dá em periódicos internacionais, principalmente aqueles indexados em bases de dados especializadas e internacionais, de ampla divulgação e prestígio". (Zimba; Mueller, 2004, p. 49).
Os principais critérios analisados para a indexação em bases de dados são o mérito científico, a qualidade editorial, a qualidade gráfica, o tipo de conteúdo, o idioma e a cobertura geográfica (Castro, 2011).
Durante muitos anos, as agências de fomento consideravam apenas a indexação nas bases da Web of Science (Castro, 2011). A WoS é uma base legitimada pela comunidade científica internacional e vem estabelecendo, de fato, parâmetros para a classificação de autores e de periódicos (Mueller, 2006). Em algumas áreas do conhecimento outras bases especializadas também são reconhecidas pela comunidade científica como indicadores de qualidade, como, por exemplo, a Medline para a área da saúde e a Eric para a área da educação (Castro, 2011). Embora a Web of Science ainda seja amplamente considerada para avaliação científica, "a criação de novas bases de dados, principalmente em áreas especializadas, introduziu critérios diferentes de seleção, privilegiando a inclusão de revistas científicas de regiões menos desenvolvidas e antes desconhecidas pela comunidade científica internacional" (Castro, 2011, p. 118). Nessa perspectiva, pode-se citar a Scientific Electronic Library Online (SciELO), que atualmente constitui a Rede Scielo da qual participam alguns países, tais como África do Sul, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Peru, Portugal e Venezuela.
A WoS, desde 2006/2007, para minimizar essas disparidades, tem se dedicado à incorporação de novos periódicos regionais. Assim, iniciou um processo de avaliação de revistas de todas as regiões do mundo (Yunta, 2010; Castro, 2011). A base Scopus da Elsevier, reconhecida pela comunidade científica para avaliação de periódicos de todas as áreas, também vem desempenhando esse papel, desde a sua criação. De acordo com informações fornecidas pela Elsevier, a cobertura da Scopus é mais ampla quando comparada com a da WoS em número de periódicos indexados. Deve-se ressaltar que a seleção do sistema Scopus é menos restritiva do que a ISI Thomson Reuters, responsável pelas bases do ISI (Yunta, 2010).
Estudo realizado sobre a visibilidade das publicações ibero-americanas nas bases de dados Web of Science e Scopus alerta sobre o número reduzido de publicações desses países indexados nessas bases e que isso é um indicador da pouca visibilidade da ciência publicada na região, e que esse fator acaba influenciando os hábitos de pesquisadores e a busca pela publicação em revistas internacionais (Yunta, 2010). Outro estudo corrobora o exposto, pois constatou que a representação dos países latino-americanos nas bases de dados estudadas é mínima. Na Scopus somente 2,3 % dos títulos disponíveis são da América Latina, enquanto que na WoS este índice é de 2,2 % (Rodrigues; Oliveira, 2012).
Algumas razões podem ser levantadas como hipóteses para explicar essa ausência. O idioma, a falta de padronização internacional e a posição de periferia do local de publicação levam um número reduzido de revistas acadêmicas latino-americanas a serem indexadas em bases de dados internacionais, o que limita o universo da visibilidade e da influência das revistas dessa região em nível internacional. Apesar de este estudo não ter seu foco no impacto das publicações, a visibilidade em bases de dados internacionais pode gerar maior número de citações e, consequentemente, maior impacto. O uso desse parâmetro, como medida de qualidade, tem direcionado a distribuição de recursos para a pesquisa no país, o que pode afetar inclusive o desenvolvimento científico autóctone.
Meadows (1999) ressaltou as diferenças entre os campos de conhecimento e que essas diferenças repercutem no padrão de comunicação científica adotado.
Velho (1997, p. 5) observou que existe tendência de os "cientistas das áreas de humanas e sociais publicarem com mais frequência dentro do país e na sua própria língua" e, segundo a autora, tal fato "deve-se, em parte, ao próprio objeto de estudo dessas áreas."
Nas ciências ditas duras existe uma cultura científica arraigada de publicação de artigos em revistas dos países desenvolvidos (centrais), o que acaba deixando os países em desenvolvimento (periféricos) em desvantagem porque os cientistas dessas áreas também preferem publicar em revistas acadêmicas dos EUA ou da Europa e raramente cientistas do centro publicam em revistas da periferia. Pelas mesmas razões, as bibliotecas da América Latina assinam revistas do centro. Essas decisões continuam a minar a ciência na periferia (Terra-Figari, 2008). Logo, os benefícios da internacionalização têm que ser vistos com certa ponderação.
No Brasil, em estudo elaborado para verificar o peso das publicações internacionais na produtividade brasileira, Leite, Mugnaini e Leta (2011, p, 318) encontraram "evidências de que a atuação internacional é uma variável dependente do campo". Segundo as conclusões do estudo realizado por esses autores, "campos dedicados a questões com interesses internacionais, tais como Biologia, Engenharia, Ciências Exatas e da Terra", são mais propensos à internacionalização.
Outros fatos têm afetado o sistema de comunicação científica. Quanto aos periódicos, as transformações nas tecnologias de informação e o movimento do acesso aberto vêm provocando a reestruturação do fluxo da comunicação e modificando o papel de editoras e autores nesse processo. Para Castro (2006), parece haver uma tendência de eliminação de barreiras no acesso à literatura científica. A visibilidade da produção científica, para alguns autores, foi potencializada com a adesão ao acesso livre de diversas publicações eletrônicas e destacam a Scientific Eletronic Library Online (SciELO), que oferece visibilidade aos títulos indexados, mesmo não tendo a dimensão de bases como a WoS, que utiliza critérios de seleção baseados em padrões internacionais (Chalhub; Guerra, 2011).
O acesso aberto, segundo Guédon (2010), tem interferido na estrutura do poder científico, por isso, é importante para países emergentes e em desenvolvimento. Para esse autor, "é difícil imaginar, a não ser retoricamente, como a defesa do acesso aberto pode ser separada da busca por uma estruturação diferente de poder na ciência." (Guédon, 2010, p. 22).
Nesse contexto, parece haver consenso sobre o fato de que os periódicos científicos têm se transformado impulsionados pelas tecnologias, novos títulos foram criados ou migrados para versões eletrônicas. A comunicação científica tem se modificado nos últimos 50 anos e mais rapidamente com a Internet. A publicação científica eletrônica tornou-se comum e viabilizou a criação de novos modelos de negócios (Björk, 2007). Entretanto, o acesso aberto suscita discussões ainda sem consensualidade, uns são contra e outros são a favor das iniciativas governamentais e não governamentais criadas para esse fim.
Os movimentos a favor do acesso aberto surgiram no final dos anos de 1990 (Kuramoto, 2006; Mueller, 2006; Abadal, 2010). Esse movimento surge como resposta às dificuldades encontradas em face da crise dos periódicos científicos tradicionais, gerada por dificuldades de recursos financeiros para manter os custos das edições pelos produtores e para manter as assinaturas de coleções pelos usuários. Segundo Mueller (2006), os periódicos eletrônicos de acesso livre são semelhantes em aparência ao modelo tradicional por assinatura e se diferenciam destes por serem acessíveis sem pagamento.
O acesso aberto é uma alternativa ao modelo tradicional de acesso e distribuição de artigos de periódicos, possibilitando aos usuários ler, baixar, copiar, distribuir e imprimir textos completos sem restrições (Miguel; Moya-Anégon; Rodríguez-Chinchilla, 2012). Nessa condição, alguns autores têm uma posição clara sobre esse assunto: o movimento de acesso aberto se baseia no princípio de que todos os resultados de pesquisas financiadas com recursos públicos devem ser de livre acesso (Kuramoto, 2006); os conteúdos em acesso aberto têm que ser gratuitos e livres de restrições de direitos (Abadal, 2010); "as publicações financiadas com recursos públicos já estão pagas e devem estar disponíveis para todos, sem custo adicional." (Rodrigues; Oliveira, 2012, p. 80).
As vantagens mais imediatas do acesso aberto são o aumento das possibilidades de acesso às publicações, redução de custos para produtores e usuários e economia de recursos públicos. Abadal (2010) ressalta algumas vantagens para a sociedade, na sua visão o acesso aberto facilita a transferência de conhecimento, rompe as barreiras entre países ricos e pobres, possibilita a reutilização das informações e permite viabilizar investimentos públicos em pesquisas.
O acesso aberto traz a possibilidade de amenizar a divisão entre ciência central/dominante e periférica. Entretanto, ainda existem dúvidas quanto à forma mais adequada de custear o acesso aberto. Os custos de produção não devem ser repassados para o público, com base no entendimento de que as pesquisas que geraram os artigos já foram subsidiadas por recursos públicos. Também existem discussões sobre o fato de o autor pagar para publicar, com esse custo podendo ser pago pela instituição do autor; ou o modelo em que o leitor paga para acessar, podendo ser custeado pela Biblioteca que assina tais publicações, ainda assim, em grande parte, esses recursos são provenientes do Estado, logo recursos públicos, principalmente em países periféricos. O movimento para acesso livre ao conhecimento científico, para alguns autores, como, por exemplo, Mueller (2006, p. 27), "pode ser considerado como o fato mais interessante e talvez importante de nossa época no que se refere à comunicação científica. Ao mesmo tempo, este movimento representa enorme desafio para a comunidade científica, à medida que, quanto mais amplo o seu sucesso, mais radical será a mudança provocada no sistema tradicional e profundamente arraigado de comunicação do conhecimento científico."
Os canais mais importantes existentes hoje para o acesso aberto são os periódicos científicos eletrônicos com avaliação pelos pares, os servidores de e-prints para áreas específicas, repositórios para assuntos específicos e os repositórios institucionais de universidades; e o autoarquivamento em páginas pessoais dos autores (Björk, 2004).
Portanto, o acesso aberto, em tese, pode trazer novas possibilidades de visibilidade para as publicações científicas. É importante distinguir que as bases de dados internacionais indexam periódicos usando critérios que atendem seus interesses institucionais e priorizam as discussões científicas consideradas relevantes pelos países chamados centrais, o fato de o periódico estar ou não em acesso aberto nesse caso é irrelevante. Por outro lado, o crescimento dos periódicos eletrônicos e em acesso aberto inclui títulos que respeitam todos os indicadores de qualidade e outros que têm um longo caminho para serem considerados relevantes pelas comunidades científicas.
3 Procedimentos metodológicos
A pesquisa desenvolvida teve abordagem quantitativa e caráter exploratório-descritivo, envolvendo técnicas de pesquisa documental.
Como pesquisa documental, teve como corpus de análise os artigos publicados pelos pesquisadores com bolsa de produtividade (PQ-Sr e PQ-1) do CNPq na área de Ciência da Informação, no período de 2008 a 2012. Como expresso anteriormente, a bolsa de produtividade é "destinada aos pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq, e específicos, pelos Comitês de Assessoramento (CAs) do CNPq." (CNPq, 2012). Nesta pesquisa, foram selecionados os pesquisadores enquadrados no extrato mais alto da bolsa, a saber, Bolsista de Produtividade 1 (1A, 1B, 1C e 1D) e Bolsista de Produtividade Sênior. Assim, do total de 45 pesquisadores, 19 estão incluídos nesses estratos e passam a compor a amostra desta pesquisa.
Os dados desta produção científica foram levantados no Currículo Lattes dos Pesquisadores, também mantido pelo CNPq. No Brasil, o Currículo Lattes é "um padrão nacional de registro da vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e é hoje adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia." (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 2013).
A partir dos dados coletados no Currículo Lattes dos pesquisadores, cujo potencial de uso "para melhor entender as nuances e tendências da ciência brasileira no contexto internacional" já foi atestado por outros autores, como Mugnaini, Leite e Leta (2011, p. 89), levantaram-se dados para a realização da análise proposta tendo como base as seguintes variáveis: título do periódico, ano de publicação, modelo de acesso, presença na WoS e na Scopus e classificação no Qualis da Capes. Tais bases foram selecionadas em decorrência do prestígio como fonte de informação alcançado em todas as áreas do conhecimento, como enfatizam Mugnaini, Leite e Leta (2011, p. 89): "Dentre as bases internacionais, destacam-se a SCOPUS, de propriedade da Elsevier, e a Web of Science (WoS), versão on-line da base SCI, as quais, pelo caráter multidisciplinar, ampla cobertura temporal e temática, e pela inclusão e contagem de citações, têm sido as mais utilizadas pelos especialistas e pelos gestores institucionais e/ou de governos."
O Qualis é "um conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação", que resulta em uma "lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção". No caso do Qualis Periódicos, esses "são enquadrados em estratos indicativos da qualidade – A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C – com peso zero". A classificação de periódicos é realizada por cada área de avaliação e passa por constante atualização. A classificação dada ao periódico pode ser diferente conforme a área de avaliação. Nesta pesquisa, será usada a classificação realizada na área de Ciências Sociais Aplicadas I (CSAI), área que pertence à Ciência da Informação (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior, 2013, p. 1).
4 Resultados: análise e discussão
Os resultados apresentados nesta pesquisa mostram a visibilidade nas bases WoS e Scopus dos periódicos utilizados para publicação de artigos pelos 19 pesquisadores bolsistas de produtividade selecionados de acordo com os critérios explicitados nos procedimentos metodológicos.
4.1 Artigos em periódicos
Nesta pesquisa foi contabilizada somente a produção científica publicada em periódicos. Identificaram-se 204 artigos publicados em 62 periódicos e, destes, 41 são nacionais e 21 são estrangeiros (Tabela 1). Estrangeiros, neste caso, refere-se aos títulos registrados em outros países.
Periódicos | Artigos | |||
---|---|---|---|---|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
|
Nacional |
41
|
66,1
|
164
|
80,4
|
Estrangeiro(a) |
21
|
33,9
|
40
|
19,6
|
Total |
62
|
100
|
204
|
100
|
Tabela 1. Artigos em periódicos nacionais e estrangeiros, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
Em relação à produção científica levantada, observa-se que as publicações em periódicos nacionais (66,1 %) prevalecem em relação aos periódicos estrangeiros (33,9 %). Os pesquisadores brasileiros da Ciência da Informação que compõe a amostra desta pesquisa publicam principalmente em periódicos nacionais, o que, consequentemente, limita a amplitude da divulgação da ciência aqui produzida nesse campo de conhecimento. Esse resultado vem comprovar que a Ciência da Informação, como Ciência Social Aplicada, corresponde ao padrão de comunicação quanto à internacionalização já detectado por outros autores (Velho, 1997; Leite, Mugnaini e Leta, 2011) e indicados na revisão teórica do presente estudo.
Os periódicos utilizados pelos pesquisadores podem ser vistos detalhadamente no apêndice A. Os periódicos mais utilizados estão representados na Figura 1.
Figura 1. Periódicos mais utilizados pelos pesquisadores para publicação, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
O ápice do crescimento da produção científica desses pesquisadores ocorre em 2011 (Figura 1). Tais variações temporais na produção científica dos pesquisadores com bolsa de produtividade podem estar relacionadas com o tempo dedicado pelos pesquisadores a outras atividades nesse período analisado, tais como atividades administrativas, editoriais, docência ou, ainda, atrasos nos cronogramas de avaliação das revistas.
Figura 2. Distribuição temporal da produção científica, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
4.2 Modelos de acesso dos periódicos
Para os pesquisadores, a qualidade do periódico pode ser ainda mais importante do que o acesso livre ou a visibilidade (Miguel; Moya-Anégon; Rodríguez-Chinchilla, 2012). Para alguns pesquisadores, a publicação de seus resultados científicos, uma vez revisados por pares e em revistas de renome, é mais importante do que a sua disponibilidade em bibliotecas de todo mundo, pois estão focados em publicar em revistas de prestígio e não somente disseminar o conhecimento (Guedon, 2009). Assim, não há evidências de que o modelo de acesso (aberto ou restrito) influencie nas escolhas dos periódicos pelos pesquisadores, que estão mais inclinados a fazer tais escolhas pautadas no prestígio dos periódicos.
Nesta pesquisa, o termo acesso restrito foi utilizado para designar o modelo tradicional de publicações em oposição ao termo acesso aberto, no qual os usuários podem ler, baixar, copiar, distribuir e imprimir textos sem pagar pelo acesso, conforme já esclarecido no decorrer deste artigo.
Entre os periódicos utilizados pelos pesquisadores da Ciência da Informação brasileira 66,1 % são nacionais de acesso aberto, 19,4 % são estrangeiros de acesso aberto e 14,5 % são estrangeiros de acesso restrito (Tabela 2).
Periódico | Nacional | Estrangeiro | ||
---|---|---|---|---|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
|
Acesso Aberto |
41
|
66,1
|
12
|
19,4
|
Acesso Restrito |
-
|
-
|
9
|
14,5
|
Total
|
62
|
Tabela 2. Modelo de acesso dos periódicos nacionais e estrangeiros, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
Ao verificar a produção científica, observa-se que a maior parte dos artigos foi publicada em periódicos nacionais de acesso aberto (81,4 %). Também em relação às publicações em periódicos estrangeiros prevalecem as publicações em acesso aberto (13,2 %).
|
|
|
||
---|---|---|---|---|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
|
Periódicos nacionais |
166
|
81,4
|
-
|
-
|
Periódicos estrangeiros |
27
|
13,2
|
11
|
5,4
|
Total
|
204
|
Tabela 3. Produção científica em periódicos, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
Verificou-se que a elite de pesquisadores do campo de Ciência da Informação no Brasil publicou majoritariamente em periódicos de acesso aberto e em publicações do próprio país. Vale destacar que nesse país prevalecem as publicações de acesso aberto na Ciência da Informação, todos os periódicos nacionais desse campo estão disponíveis em sistemas de acesso aberto. Assim, os pesquisadores que optam por publicarem seus artigos em periódicos nacionais acabam, consequentemente, publicando em periódicos de acesso aberto. Dessa forma, observando os dados de publicações em periódicos nacionais, ao diferenciar o fator decisivo na escolha dos canais para publicação entre o modelo de acesso dos periódicos e a localização geográfica da publicação, esta última adquire mais peso. Contudo, as razões que motivam essa escolha não estão claras neste estudo, em função da necessidade de se levantar informações de natureza qualitativa para aprofundar esse entendimento. Do outro lado, afirmar que há preferência por publicação em acesso aberto usando os dados levantados quanto às publicações em periódicos estrangeiros parece um tanto frágil, em decorrência de que apenas 13,2 % do total de artigos desses pesquisadores foram publicados em outros países.
4.3 Visibilidade da produção científica na WoS e Scopus
A visibilidade proveniente da indexação nas bases de dados WoS e Scopus, em tese, deveria ampliar as chances de citações, além de promover o financiamento aos periódicos que publicam bons artigos, que são indexados e citados (Mueller, 1999). A acessibilidade contribui para o aumento do uso e isso as publicações de acesso aberto proporcionam (Zimba; Mueller, 2004). Entretanto não é possível correlacionar essa condição com a visibilidade, pois atualmente a visibilidade para avaliação da ciência produzida é considerada a partir da indexação em bases de dados internacionais, especificamente na Web of Science e, mais recentemente, na Scopus (Castro, 2011), conforme já mencionado neste estudo.
Ao verificar a visibilidade nas bases WoS e Scopus dos periódicos científicos escolhidos pelos pesquisadores de Ciência da Informação no Brasil para a publicação de artigos, observa-se que apenas uma quantidade ínfima está indexada em tais bases. Dos 50 periódicos de acesso aberto utilizados por esses pesquisadores, apenas quatro estão indexados na Web of Science, e sete, na Scopus. Entre os periódicos de acesso restrito apenas um está indexado na Web of Science e dois na Scopus (Tabela 4). A listagem completa pode ser visualizada no Apêndice A.
Periódico | Acesso Aberto | Acesso Restrito | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
WoS
|
Scopus
|
Não indexados
|
WoS
|
Scopus
|
Não indexados
|
|||||||
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
|
Nacional |
3
|
7,3
|
5
|
12,2
|
36
|
87,8
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Estrangeiro |
1
|
8,3
|
2
|
16,7
|
10
|
83,3
|
1
|
11,1
|
2
|
22,2
|
7
|
77,7
|
Tabela 4. Visibilidade dos periódicos científicos na WoS e Scopus, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013
Entre os periódicos nacionais de acesso aberto apenas 7,3 % estão indexados na Web of Science e 12,2 % na Scopus. Entre os periódicos estrangeiros de acesso aberto 8,3 % estão presentes na WoS e na Scopus. E 11,1 % dos periódicos estrangeiros de acesso restrito estão na WoS, e 22,2 %, na Scopus. Observa-se que a maioria dos periódicos nacionais (87,8 %) e dos periódicos estrangeiros (83,3 % dos de acesso aberto e 77,7 % dos de acesso restrito) não está indexada nas bases analisadas, a saber, WoS e Scopus.
Os resultados da presente pesquisa permitem inferir que não há diferenças significativas entre os periódicos utilizados de acesso aberto e restrito pelos pesquisadores de Ciência da Informação quanto à indexação em tais bases de dados.
Em relação à visibilidade da produção científica, verifica-se que os resultados são semelhantes, 27,7 % dos 166 artigos publicados em periódicos nacionais de acesso aberto estão visíveis por meio da WoS, e 31,9 %, via Scopus. Dos artigos publicados em periódicos estrangeiros, constatou-se que 3,7 % dos 27 artigos publicados em periódicos estrangeiros de acesso aberto estão visíveis na Web of Science, e 7,4 %, na Scopus; já, entre os artigos publicados em periódicos estrangeiros de acesso restrito, 18,2 % estão disponíveis na WoS, e 27,3 %, na Scopus (Tabela 5).
Também verifica-se que a maior parte dos artigos foi publicada em periódicos não indexados nas bases estudadas. Entre os artigos nacionais, 68,1 % estão em periódicos não indexados e, entre os artigos em periódicos estrangeiros, 92,6 % foram publicados em periódicos de acesso aberto não indexados e 72,7 % em periódicos de acesso restrito não indexados em tais bases.
Artigos |
|
|
||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
WoS
|
Scopus
|
Não indexados
|
WoS
|
Scopus
|
Não indexados
|
|||||||
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
|
Acesso Aberto |
46
|
27,7
|
53
|
31,9
|
113
|
68,1
|
1
|
3,7
|
2
|
7,4
|
25
|
92,6
|
Acesso Restrito |
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
2
|
18,2
|
3
|
27,3
|
8
|
72,7
|
Tabela 5 – Visibilidade dos periódicos na WoS e Scopus,2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013
Nesta pesquisa, os periódicos estrangeiros de acesso restrito tiveram maior visibilidade nas bases analisadas, o que parece confirmar a visão de alguns autores de que maior acesso não necessariamente ocasiona maior visibilidade. Embora o acesso aberto possibilite um maior uso, como já mencionado anteriormente, é importante considerar que o prestígio obtido pelos periódicos em função da qualidade de suas publicações é condição essencial para incorporação de títulos de periódicos em bases de dados e essa condição é determinante para a escolha dos pesquisadores.
A qualidade não pode ser expressa em números simples e há uma gama de fatores que precisam ser verificados para aferir o nível de qualidade do periódico, desde o cumprimento das normas editoriais para a apresentação e organização dos conteúdos ao processo de revisão por pares (Miguel; Moya-Anégon; Rodríguez-Chinchilla, 2012).
Ainda, é preciso chamar a atenção para que, ao avaliar a produção científica pela visibilidade em base de dados internacionais, como a WoS e Scopus, apenas uma parcela da produção científica será considerada. A ciência será "representada por um iceberg que tem uma parte visível acima da água." (Meneghini, 1998). Essa constatação é corroborada em outros estudos, e um deles encontrou um número reduzido de publicações dos países ibero-americanos nas bases de dados Web of Science e Scopus (Yunta, 2010) e outro constatou que a representação dos países latino-americanos nas bases de dados estudadas é mínima (Rodrigues; Oliveira, 2012).
Considerando a classificação no Qualis, constata-se que os pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa na Ciência da Informação brasileira publicaram principalmente (49,46 %) em periódicos enquadrados como B1. Então, observa-que a produção científica não estará visível nas bases de dados internacionais, visto que os periódicos indexados na WoS são enquadrados em A1 no Qualis, e a produção nesses periódicos representa 25 % da produção científica dos referidos pesquisadores (Tabela 6).
Qualis | Periódicos | Produção científica | ||
---|---|---|---|---|
n.
|
%
|
n.
|
%
|
|
A1 |
7
|
11,3
|
51
|
25
|
A2 |
3
|
4,8
|
4
|
2
|
B1 |
22
|
35,5
|
103
|
50,5
|
B2 |
1
|
1,6
|
1
|
0,5
|
B3 |
6
|
9,7
|
6
|
2,9
|
B4 |
7
|
11,3
|
16
|
7,8
|
B5 |
10
|
16,1
|
12
|
5,9
|
Sem Qualis |
6
|
9,7
|
11
|
5,4
|
Total |
62
|
100
|
204
|
100
|
Tabela 6 – Classificação no Qualis dos periódicos usados pelos pesquisadores, 2008-2012
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
A publicação em periódicos B1 pode denotar que muitos desses periódicos ainda não alcançaram o nível de qualidade, pois, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior, "a classificação nos estratos A1, A2, A3, B1, B2, B3, B4, B5 ou C dos periódicos científicos da área Ciências Sociais Aplicadas I (CSAI) aponta o seu nível de qualidade e, consequentemente, lhe confere uma identidade que serve como referência para a área, programas e pesquisadores." (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior, 2013, p. 1).
No Brasil, o Qualis, conforme já indicado no decorrer deste texto, é um sistema de classificação de publicações científicas destinado para avaliação da produção intelectual dos programas de pós-graduação, mas tem contribuído para o aperfeiçoamento editorial e para o aumento da qualidade dos conteúdos dos periódicos científicos nacionais. Esse aperfeiçoamento e o aumento na qualidade podem ser constatados pelo aumento de publicações brasileiras presentes no Journal Citation Reports (JCR) (Volpato, 2008). O JCR possibilita avaliar e comparar os periódicos científicos indexados na WoS a partir dos dados das citações, verificando os periódicos mais citados em determinada área e a relevância e impacto destes para a comunidade científica. Os dados das citações permitem calcular o fator de impacto, que é a média entre o número de artigos citados e o número de artigos publicados pelo periódico, e recebidas durante o biênio anterior.
Além do fator de impacto do periódico nas bases Journal Citation Report da WoS e Scimago Journal & Country Rank da Scopus, o Qualis considera também outros indexadores de caráter mais regional ou específico da área de conhecimento analisada (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior, 2013). Para o enquadramento em cada estrato, o Qualis considera critérios específicos (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior, 2009), como a indexação em bases de dados internacionais.
Em contrapartida, também é importante considerar a publicação em todos os periódicos para a avaliação científica, visto que as áreas do conhecimento e regiões geográficas apresentam particularidades.
5 Considerações finais
Nos resultados da análise da visibilidade dos periódicos do campo da Ciência da Informação no Brasil nas bases de dados Web of Science e Scopus, pode-se constatar que essa produção é publicada, principalmente, em periódicos nacionais de acesso aberto. Considerando que todos os periódicos no Brasil, desse campo, estão disponíveis em acesso aberto, fica difícil correlacionar diretamente essa condição como uma escolha ou preferência do pesquisador. Assim, o que se pode deduzir é que na Ciência da Informação brasileira existe um consenso quanto à importância do acesso aberto para as publicações científicas, o que está evidenciado nos esforços concentrados para se manter periódicos desse campo em acesso aberto.
Cabe ressaltar que, no Brasil, existe um movimento nacional nesse sentido, em todas as áreas do conhecimento. O Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (IBICT) tem promovido iniciativas para que esse movimento de acesso aberto para as publicações científicas seja consolidado, como, por exemplo, disponibilizando o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER), que é um software desenvolvido para a construção e gestão de uma publicação periódica eletrônica. Essa ferramenta "contempla ações essenciais à automação das atividades de editoração de periódicos científicos" e "permite uma melhoria na avaliação da qualidade dos periódicos e uma maior rapidez no fluxo das informações." (IBICT, 2013).
É importante ressaltar que apenas uma parcela mínima da produção científica desses pesquisadores está indexada nas bases WoS e Scopus, assim, se a produção científica da área for avaliada somente pela publicação em periódicos indexados em tais bases, terá boa parte de sua produção desconsiderada.
Recomenda-se a realização de estudos mais aprofundados de natureza qualitativa, que possam investigar os fatores que influenciam a escolha dos periódicos para publicação pelos pesquisadores e que também possam comparar se os artigos publicados nos periódicos de acesso aberto são mais citados pela comunidade científica nesse campo de conhecimento.
Fiorin (2007) argumenta que existe a necessidade de se criar uma política de internacionalização para as publicações científicas brasileiras, principalmente nas áreas de ciências humanas e sociais. Nesse sentido, alerta que "estabelecer uma política para a internacionalização da produção científica significa levar em conta a diversidade, a heterogeneidade, a diferença" entre os campos científicos. Desse modo, é importante que a Ciência da Informação brasileira busque mecanismos para legitimar os periódicos emergentes e locais, e é igualmente importante procurar meios para tornar a sua produção científica visível internacionalmente. Vale destacar também a importância do fortalecimento do movimento do acesso aberto como uma nova possibilidade de fomentar a visibilidade das publicações neste e em outros campos do conhecimento.
Bibliografia
Abadal, E. (2012). Acceso abierto a la ciència. Barcelona: Editorial UOC. <http://diposit.ub.edu/dspace/bitstream/2445/24542/1/262142.pdf>. [Consulta 01/07/ 2013].
Björk, B.-C. (2007). "A model of scientific communication as a global distributed information system". Information Research, v. 12, n. 2, p. 307–355 <http://InformationR.net/ir/12-2/paper307.html>. [Consulta 01/07/ 2013].
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Castro, R. C. F. (2011). "Indexação de revistas científicas em bases de dados". In: Población, D. A. et al. Revistas científicas: dos processos tradicionais às perspectivas alternativas de comunicação. Cotia: Ateliê Editorial, Cap. 5.
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Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (2007). Normas de bolsas e auxílios: produtividade em pesquisa (PQ), norma específica. <http://www.cnpq.br/normas/rn_06_016_anexo1.htm>. [Consulta 28/07/2007].
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (2013). Sobre a Plataforma Lattes. <http://lattes.cnpq.br/>. [Consulta 13/02/2014].
Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (2011). Comunicado Nº 01/2013: área de Ciências Sociais Aplicadas I, atualização do WebQualis da área – ref. 2011. <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam>. [Consulta: 24/11/ 2013].
Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior. Diretoria de Avaliação (2009). "Documento de área". <http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/SOC_APLIC_07mai10.pdf>. [Consulta: 24/11/ 2013].
Fiorin, J. L. (2007). "Internacionalização da produção científica: a publicação de trabalhos de Ciências Humanas e Sociais em periódicos internacionais". Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 4, (des.). <http://www2.capes.gov.br/rbpg/images/stories/downloads/RBPG/Vol.4_8dez2007_/Debates_artigo2_n8.pdf>. [Consulta 13/02/2014].
Guedón, J.-C. (2010). "Acesso aberto e divisão entre ciência predominante e ciência periférica". En: Ferreira, S. M.; Targino, M. das G. (Org.) Acessibilidade e visibilidade de revistas científicas eletrônicas. São Paulo: Editora São Paulo.
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Kuramoto, H. (2006). "Informação científica: proposta de um novo modelo para o Brasil". Ciência da informação, v. 35, n. 2, (maig/ag.), p. 91–102. <http://www.scielo.br/pdf/ci/v35n2/a10v35n2.pdf>. [Consulta: 19/08/ 2013].
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Meadows, J. A. (1999). A comunicação científica. Brasília: Briquet de Lemos.
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Mueller, S. P. M. (2006). "A comunicação científica e o movimento de acesso livre ao conhecimento". Ciência da Informação, v. 35, n. 2, (maig/ag.), p. 27–38. <http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/issue/view/35/showToc>. [Consulta: 27/09/ 2013].
Mueller, S. P. M. (1999). "O círculo vicioso que prende os periódicos nacionais". Datagramazero, v. 0, n. 0, p. 1–10.
Mueller, S. P. M. (1995). "O crescimento da ciência, o comportamento científico e a comunicação científica: algumas reflexões". Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, v. 24, n. 1, (gen./ juny), p. 63–84.
Mugnaini, R.; Leite, P.; Leta, J. "Fontes de informação para análise de internacionalização da produção científica brasileira". Ponto de Acesso, v. 5, n. 3, (ag.), p. 87–102. <http://www.pontodeacesso.ici.ufba.br>. [Consulta 13/02/2014].
Price, D. J. S. (1974). "Society's need in scientific and technical information". Ciência da Informação, v. 3, n. 2, p. 97–103,
Rodrigues, R. S.; Oliveira A. B. (2012). "Periódicos científicos na América Latina: títulos em acesso aberto indexados no ISI e Scopus". Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 4, p. 76–99.
Targino. M. das G. (2000). "Comunicação científica: uma revisão de seus elementos básicos". Informação e Sociedade: estudos, v. 10, n. 2, p. 37–85.
Terra-Figari, L. I. (2008). "Diseminación del conocimiento académico en América Latina". Montevideo. En: Antropología social y cultural en Uruguay. Uruguay: UNESCO.
Velho, L. (1997). "A ciência e seu público". Transinformação, v. 9, n. 3, (set./des.), p. 15–32.
Volpato, G. (2008). Publicação científica. 3a ed. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Yunta, L. R. (2010). "Las revistas iberoamericanas en Web of Science y Scopus: visibilidad internacional e indicadores de calidad". In: Seminario Hispano-Mexicano de Investigación en Bibliotecología y Documentación, 12., Ciudad de México, 2010. Anais… Ciudad de México. <http://eprints.rclis.org/bitstream/10760/14490/1/LuisRY7Encuentro.pdf >. [Consulta: 15/07/2013].
Ziman, J. M. (1979). Conhecimento público. Belo Horizonte: Itatiaia.
Ziman, J. M. (1969). "Information, communication, knowledge". Nature, n. 24, p. 310–324.
Zimba, H. F.; Mueller, S. P. M. (2004). "Colaboração internacional e visibilidade científica de países em desenvolvimento: o caso da pesquisa na área de medicina veterinária em Moçambique". Informação & Sociedade: estudos, v. 14, n. 1, (gen./juny), p. 45–68.
Apêndice A – Periódicos utilizados pelos pesquisadores para publicação de artigos
Periódicos | Accsso | WoS | Scopus | Artigos |
---|---|---|---|---|
Anales de Documentación (Espanya) |
Aberto
|
|
|
2
|
AtoZ: Novas Práticas em Informação e Conhecimento |
Aberto
|
|
|
2
|
Aula de Innovación Educativa |
Aberto
|
|
|
1
|
Biblios (Perú) |
Aberto
|
|
|
2
|
Bibliotecas Universitárias: Pesquisas, experiências e perspectivas |
Aberto
|
|
|
1
|
Brazilian Journal of Information Science |
Aberto
|
|
|
4
|
Butlletí de l'Associació d'Arxivers Valencians (Espanya) |
Aberto
|
|
|
1
|
Caderno de Idéias |
Aberto
|
|
|
1
|
Ciência da Informação |
Aberto
|
|
X
|
6
|
Comma: International Journal on Archives |
Restrito
|
|
|
1
|
Communication et Langages (França) |
Aberto
|
|
|
1
|
Datagramazero |
Aberto
|
|
|
20
|
Documentaliste (França) |
Restrito
|
|
X
|
1
|
Electronic Library (Regne Unit) |
Restrito
|
|
|
1
|
Em Questão |
Aberto
|
|
|
1
|
Encontros Bibli |
Aberto
|
|
|
12
|
Enfoque |
Aberto
|
|
|
1
|
ETD : Educação Temática Digital |
Aberto
|
|
|
4
|
InCIC: Revista de Ciência da Informação e Documentação |
Aberto
|
|
|
1
|
Inclusão Social |
Aberto
|
|
|
3
|
Infodiversidad (Argentina) |
Restrito
|
|
|
2
|
Informação & Informação |
Aberto
|
|
|
7
|
Informação & Sociedade |
Aberto
|
X
|
X
|
16
|
Information Development (Regne Unit) |
Restrito
|
|
|
1
|
International Journal of Historical Learning, Teaching and Research (Regne Unit) |
Aberto
|
|
|
1
|
International Journal of Library and Information Science (Nigèria) |
Aberto
|
|
|
1
|
International Social Science Journal (Regne Unit) |
Aberto
|
|
X
|
1
|
Investigación Bibliotecológica (Mèxic) |
Aberto
|
X
|
X
|
1
|
Knowledge Organization (Alemanya) |
Restrito
|
|
|
2
|
Liinc em Revista |
Aberto
|
|
|
3
|
Memorandum |
Aberto
|
|
|
1
|
Morpheus |
Aberto
|
|
|
1
|
Museologia e Interdisciplinaridade |
Aberto
|
|
|
1
|
Nuovi Annali della Scuola Speciale per Archivisti e Bibliotecari (Itàlia) |
Restrito
|
|
|
1
|
Percursos |
Aberto
|
|
|
1
|
Perspectivas em Ciência da Informação |
Aberto
|
X
|
X
|
20
|
Perspectivas em Gestão & Conhecimento |
Aberto
|
|
|
4
|
Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia |
Aberto
|
|
|
3
|
PontodeAcesso |
Aberto
|
|
|
5
|
RBPG - Revista Brasileira de Pós-Graduação |
Aberto
|
|
|
2
|
RECIIS. Electronic Journal of Communication Information and Innovation in Health |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista ABEU |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista ACB |
Aberto
|
|
|
3
|
Revista Acervo |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação |
Aberto
|
|
|
2
|
Revista Brasileira de Enfermagem |
Aberto
|
|
X
|
1
|
Revista Contabilidade & Finanças |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista de Iniciação Científica da FFC |
Aberto
|
|
|
2
|
Revista Diálogo Educacional |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação |
Aberto
|
|
|
3
|
Revista EDICIC |
Aberto
|
|
|
5
|
Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista Palavra |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista Româna de Comunicare si Relatii Publice (Romania) |
Aberto
|
|
|
1
|
Revista Turismo em Análise |
Aberto
|
|
|
1
|
Revue d'Études Benthamiennes (França) |
Aberto
|
|
|
1
|
Rumores |
Aberto
|
|
|
2
|
Sciences de la Société (França) |
Restrito
|
|
|
1
|
Scire (Espanya) |
Aberto
|
|
|
13
|
Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação |
Aberto
|
|
|
10
|
The Journal of Community Informatics (Canadà) |
Aberto
|
|
|
2
|
Transinformação |
Aberto
|
X
|
X
|
10
|
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